Posted on 24 de Setembro de 2015 por Socialismo Revolucionário - CIT em Portugal
Adaptação do artigo de Nial Mulholland (CIT) de 22/09/2015
Artigo original em http://www.socialistworld.net/doc/7342
Artigo original em http://www.socialistworld.net/doc/7342
Alternativa socialista de massas precisa de ser construída
Entrevista a Andreas Payiatsos, do Xekinima (CIT na Grécia) sobre os resultados eleitorais e o seu significado para a esquerda anti-austeridade na Grécia
A 20 de Setembro, o Syriza (Coligação da Esquerda Radical) voltou ao poder com os resultados das eleições legislativas e vai voltar a partilhar o poder com o partido de direita Gregos Independentes.
O líder do Syriza, Alexis Tsipras, afirma ter o mandato para continuar com as políticas de austeridade em troca do terceiro acordo de resgate com a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).
Será verdade?
Quais são os principais aspectos a reter dos resultados eleitorais?
O aspecto mais importante das eleições foi a elevada taxa de abstenção. Cerca de 45% não votou. Antes dos ‘memorandos’ a abstenção variava entre 25% e 30%.
Todos os partidos perderam votos relativamente às eleições de Janeiro, mesmo que as suas percentagens tenham subido. O Syriza obteve 35.46% (36.34% em Janeiro) mas na realidade menos 320,000 votos. O partido tradicional da classe dominante, a Nova Democracia (ND), obteve aproximadamente a mesma percentagem que em Janeiro (28.10%) mas também perdeu perto de 200,000 votos.
A neo-Nazi Aurora Dourada (AD) ficou em terceiro com 6.99%, um ligeiro aumento, e permanece um potencial perigo para a classe trabalhadora. O seu número de votantes diminuiu em 10,000, excepto nalgumas ilhas perto da Turquia, onde a AD explorou a crise dos refugiados.
O partido social-democrata tradicional, Pasok, ficou atrás da Aurora Dourada. Continuou a ser castigado após anos no governo, marcados pela corrupção e por medidas de austeridade.
Claramente, grandes extensões do eleitorado estão alienadas dos principais partidos pró-austeridade. A campanha eleitoral foi extremamente aborrecida – nunca houve tanta falta de interesse nas eleições.
Como é que o Syriza ganhou após ter causado tanta desilusão com a sua reviravolta relativamente à austeridade?
O Syriza não ganhou com uma onda de genuíno entusiasmo dos trabalhadores, pensionistas e juventude – como em Janeiro passado quando apresentou um programa anti-austeridade. Desta vez, os trabalhadores e as classes médias votaram no Syriza como o ‘mal menor’.
Apesar de ganhar o referendo a 5 de Julho contra a austeridade, Alexis Tsipras capitulou perante a Troika uma semana depois e aceitou novas duras condições de resgate.
Tsipras usou uma retórica de Esquerda durante a campanha eleitoral e algumas das bases do Syriza ainda têm ilusões relativamente a ele.
Ele foi ajudado pelo facto de o memorando que assinou ainda não ter sido aplicado e, portanto, os trabalhadores ainda não terem sentido os efeitos destes novos cortes. Tsipras argumentou que foi chantageado pela Troika para aceitar o memorando, caso contrário teria enfrentado a expulsão da Grécia da Zona Euro (ZE) com consequências catastróficas.
Dentro do confinamento das medidas de austeridade impostas, o Syriza vai tentar encontrar os meios para ajudar os mais vulneráveis e atacar os ricos, argumenta Tsipras. Mas a maior parte dos trabalhadores que votou no Syriza não tem ilusões no partido. Apenas espera que no governo o Syriza não seja tão cruel e brutal como um governo liderado pela Nova Democracia.
Como é que a Esquerda anti-austeridade esteve nas eleições?
Devido ao seu posicionamento sectário e ultra-esquerdista, o KKE (Partido Comunista Grego) não capitalizou com o deslize do Syriza. Manteve a votação em termos percentuais (5.5%), mas na realidade perdeu 11% dos votos recebidos nas eleições de Janeiro.
Os resultados são também um golpe para o resto da Esquerda anti-capitalista. O Antarsya (esquerda anti-capitalista) obteve apenas 0.85%. Um quarto dos seus membros saiu para a Unidade Popular (UP), a nova formação que surgiu da cisão pela esquerda do Syriza.
Houve largas esperanças da esquerda na UP, mas esta não atingiu o limiar dos 3% necessários para entrar no parlamento. A UP vai provavelmente enfrentar sérios problemas internos no próximo período. Os seus membros que foram deputados pelo Syriza perderam os lugares e, juntamente, recursos financeiros consideráveis.
É verdade que a UP teve que travar as suas primeiras eleições em circunstâncias difíceis, com uma enorme desilusão entre as massas devido à traição do Syriza. Mas os líderes da UP também não se ajudaram. No início da campanha trataram o resto da Esquerda de forma arrogante e agiram de forma burocrática e não democrática. Também sobrestimaram o resultado que poderiam ter. Quando se tornou claro que a UP enfrentava dificuldades para entrar no parlamento, fizeram um apelo ao resto da esquerda para os apoiarem numa frente unida mas, nessa altura, o dano já estava feito. A UP também falhou em inspirar os trabalhadores e a juventude com um programa socialista e claramente anti-austeridade. Disseram correctamente ‘Não’ ao memorando mas não apontaram um caminho em frente, não acalmando os medos de muitos trabalhadores sobre o que aconteceria se a Grécia fosse forçada a sair da Zona Euro.
Nós, no Xekinima, dizemos que devemos recusar pagar a dívida e devemos nacionalizar o sistema bancário. Isto vai implicar uma colisão com a UE e uma saída da Zona Euro.
O regresso a uma moeda nacional pode providenciar a base para o desenvolvimento da economia e da sociedade mas só se acompanhada pela nacionalização dos sectores chave da economia sob controlo e gestão dos trabalhadores. Desta forma a economia pode ser planeada democraticamente para servir os interesses e as necessidades da maioria da sociedade, em vez de produzir enormes lucros para um punhado de armadores, banqueiros e industriais.
O que se segue para a Esquerda?
O novo governo liderado pelo Syriza irá ter problemas em breve. O memorando tem de ser imposto, o que vai levar a mais empobrecimento da sociedade grega e a uma crescente raiva. Ao mesmo tempo, a dívida nacional permanece impagável. A Grécia vai continuar atolada numa ‘Grande Depressão’.
Neste contexto, são prováveis mais cisões do Syriza pela esquerda. Por exemplo, uma nova formação de esquerda decorrente do Syriza, chamada ARC, está a discutir as lições do que correu mal com o Syriza no poder.
O Xekinima toma parte nestas discussões e continuamos a ter um papel importante no movimento ‘17 de Julho’, que pretende construir uma rede de alianças locais de esquerda, com um programa anti-capitalista.
Essas iniciativas e, crucialmente, uma luta de classes renovada, que vai trazer muitas novas camadas de trabalhadores e juventude para a luta, podem formar a base para o desenvolvimento de uma nova Esquerda revolucionária de massas, organizada democraticamente. Esta é a única força capaz de resolver a profunda crise que afecta os trabalhadores gregos, reorganizando a sociedade segundo linhas socialistas.
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